Para a psicanálise nós, enquanto seres de linguagem, não temos instinto como os animais. Então, apesar das mulheres terem uma pré-disposição biológica que permite gestar e parir, ela não nasce com o tal instinto materno como ainda se acredita.
Ter um filho não é a mesma coisa que ser mãe. De acordo a psicanalista francesa Françoise Dolto todo filho é adotivo, pois é necessário que a mulher adote aquela criança, mesmo que tenha sido gerada por ela, investindo assim amor e cuidado. O que acontece em grande parte dos casos, mas não em todos.
A ideia de instinto materno está relacionada a uma construção social e que sustenta inúmeras desigualdades de gênero. Sobre esse tema a filósofa Silvia Federeci diz " O que chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago", visto que o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos ainda não são valorizados como trabalho e são realizados em sua maior parte mulheres.
Relacionar a capacidade do cuidado e o amor incondicional às mulheres faz parte desse mito do instinto materno, que segue sustentando desigualdades.
E ao que me parece, há um esforço imenso da sociedade em seguir reinventando essa ideia de que mulheres nasceram para ser mãe, um exemplo disso são as "mãe de pet" e "mães de planta", ou seja, até para amarmos um bicho ou planta nós precisamos desse "instinto materno".
Ser mãe é uma escolha e não destino natural. Além, disso é importante que seja visto como um ato político também para romper com as estruturas que colocam as responsabilidades todas na conta da mãe.
Que nós, mulheres, possamos seguir a cada dia sustentando o desejo de querer ou não ser mãe. E quando escolher ser, não ser colocada em posição de desigualdade por conta dessa escolha.
Psicóloga Juliana Cruz- CRP: 08/27388
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